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São Paulo — A diretora-geral adjunta da Unesco para Ciências Humanas e Sociais, Gabriela Ramos, afirmou nesta quarta-feira (29/11), em São Paulo, que a organização que vai criar um encontro anual de autoridades internacionais para debater políticas de combate ao racismo e à discriminação.
A ideia é que as lideranças das pastas ligadas à diversidade participem da chamada “Rede de Formuladores de Políticas contra o Racismo e a Discriminação” e se reúnam periodicamente, assim como acontece com os ministros ligados à pasta da Economia nos encontros organizados pelo Banco Mundial.
“Será o lugar onde os ministros vêm para trocar suas experiências, onde a Unesco documentará o que funciona e o que não funciona, quais são os pontos de referência e as falhas, para que possamos aprender e tomar decisões para avançar nas demandas sobre igualdade”, afirma Gabriela.
A reunião entre as lideranças deverá acontecer durante as edições anuais do Fórum Global contra o Racismo e a Discriminação, evento da Unesco que teve sua terceira edição iniciada nesta quarta.
Na manhã de hoje, um painel com autoridades de sete países no Fórum debateu como os governos têm lidado com a pauta antirracista e quais os caminhos para conseguir melhorias.
A ministra da Igualdade Racial do Brasil, Anielle Franco, participou do painel e afirmou que o governo brasileiro tem criado políticas públicas entre diferentes pastas para conquistar avanços na pauta.
“Igualdade racial no Brasil e, em todo lugar, é um tema transversal”, disse a ministra.
Ela citou como exemplo grupos de trabalho organizados em conjunto com os ministérios da Justiça, Direitos Humanos e Saúde, que visam reduzir as violências contra a população negra e garantir o acesso a direitos básicos, como educação, saúde e moradia.
A ministra também comentou sobre a importância de encarar o combate ao racismo de forma coletiva.
“Toda a vez que a gente fala sobre combater o racismo não é um assunto isolado das pessoas negras. Não pode ser. Essa luta tem que ser coletiva sim. Não é à toa que mulheres negras estão sub representadas em espaços de poder, mas sobre representadas em espaços de violência”, afirmou Anielle.
Recentemente, a ministra, que é irmã de Marielle Franco, entregou ao presidente Lula uma lista com seis sugestões de mulheres negras para ocupar a vaga aberta no Supremo Tribunal Federal – o STF nunca teve uma mulher negra entre seus membros. O petista, no entanto, anunciou nesta semana que Flávio Dino ocupará a vaga.
Anielle também comentou a necessidade de coletar dados sobre a população negra para a criação de políticas públicas específicas.
Representante especial para Igualdade Racial e Justiça no governo dos Estados Unidos, Desirée Cormier Smith endossou a importância das estatísticas na elaboração das políticas sobre o tema.
“Se não fosse pelos dados não saberíamos que as pessoas negras nos Estados Unidos estavam ‘sobre representadas’ nas prisões, não saberíamos que as mulheres negras têm três vezes mais chances de morrer por causas relacionadas à maternidade. Estes são problemas críticos que, por causa dos dados, nós somos capazes de endereçar recursos adicionais, atenção e programas para atender”, disse Desirée.
Representante do governo Joe Biden, ela disse que o racismo e a discriminação “estão nas nossas insitutições há séculos” e por isso é difícil resolver os problemas “tão rápido quanto se deveria”.
Desirée afirmou que sonha com o momento em que a sociedade “ame tanto a comunidade negra quanto ama a cultura negra”.
A ministra da Diversidade, Inclusão e Pessoas com Deficiência do Canadá, Kamal Khera, afirmou que o governo canadense tem usado as estatísticas para implementar medidas como a criação de uma secretaria sobre o tema do antirracismo.
Para Kamal, é preciso aplicar o combate ao racismo nos diferentes postos do governo.
“Se nós de fato desejamos combater a discriminação em todas as suas formas precisamos ser muito enfáticos com politicas”, afirmou a ministra.
O evento contou ainda com a participação presencial de representantes de governos do Nepal, Honduras e México. De forma online, participou uma porta-voz do governo argentino.
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